Desperta uma nova visão de mundo na sociedade. E o ambiente empresarial sente seus reflexos.
16 julho 2018
Acontecimentos recentes demonstram, de forma viva e inequívoca, que passamos por uma transformação na sociedade com poucos precedentes em nossa história recente. É como se um vulcão adormecido durante anos entrasse em erupção e explodisse com a estabilidade que vigora há décadas. Diariamente sou confrontado com essa convicção como, por exemplo, ao assistir as peripécias de homens do mundo todo na Copa e sua relação desrespeitosa – para dizer o mínimo – com as mulheres. Foram registrados 45 casos oficiais de assédio na Rússia, porém, estima-se que esse número seja 10x maior, pois a maioria das ocorrências não foi registrada. Muitos ainda estranham que “brincadeirinhas inofensivas” sejam encaradas de forma tão séria. O mundo mudou. A consciência da sociedade está mudando e o mundo corporativo não passa ileso a essa dinâmica. Aliás, insisto na tese que uma empresa é uma entidade social. Tem natureza privada, porém sua prática se consubstancia na sociedade. É ela que dá a licença para que qualquer organização habite e opere em seu universo. É habitual que essa lógica seja negligenciada e o mundo corporativo entendido e percebido como uma bolha que se encerra em si mesmo. Ledo engano. É óbvio que as novas relações que regem a nova sociedade terão – e tem – consonância com as relações dentro das empresas. Por que se valoriza tanto a diversidade nas corporações atualmente? Por que a questão da equidade de gênero é tão discutida por líderes empresariais? Por que a temática do propósito está tão presente nas agendas corporativas? Simplesmente porque a sociedade valoriza, exige e demanda por uma nova natureza no relacionamento entre seus agentes. Da mesma forma que aqueles homens da Copa não entendem o motivo de tanto barulho devido a “brincadeirinhas inofensivas” com as mulheres, afinal sempre foi assim, líderes não entendem a razão de novas demandas. Esse estranhamento é natural, já que estamos no centro de um processo de transformação fundamental na sociedade. É o clássico “ponto de bifurcação” onde um novo sistema se encontra com aquele que estava consolidado há décadas. Em dado momento do espaço-tempo ambos coabitam o mesmo ambiente. Durante esse período, a sensação é de caos absoluto, já que o paradigma atual é confrontado por um novo, cujos limites e características ainda não estão claros. Até que seja estabelecida uma nova ordem, a confusão impera. Qualquer semelhança com o que está acontecendo agora não é mera coincidência. É necessário que uma nova consciência seja desenvolvida por todos os líderes corporativos. É imperativo que seja evitada a armadilha dos discursos politicamente correto e das decisões cosméticas cujo propósito principal é “sair bem na foto”. A Caixa de Pandora foi aberta nos obrigando a lidar com todas as nossas contradições. Não importa onde você esteja, essa demanda é onipresente. Arrisco a dizer que serão vencedores aquelas e aqueles com coragem e muita, muita humildade para encarar de peito aberto a nova ordem das coisas. O mundo está em aberto. Só não vê quem não quer.
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