Está na Exame de Fevereiro uma pesquisa que me causou sentimentos contraditórios.
Trata-se de uma pesquisa realizada pela Firjan com 5.600 jovens de todos país na faixa etária entre 25 e 35 anos sobre sua relação com o empreendedorismo.
Ela evidencia uma tendência clara que observamos em diversas fontes: o desejo por empreender faz parte, cada vez mais, do ideário de jovens de todo Brasil.
O que me causou mixed feelings foram as respostas sobre os motivos que levam esse jovem a desejar empreender.
76% responderam que almejam realizar um sonho. Excelente!
Empreender, em sua essência, está relacionado a possibilidade de concretização de projetos pessoais, de sonhos ambiciosos.
Até aí, tudo bem. A porca começa a torcer o rabo quando analisamos um outro motivo explicitado por 64% dos entrevistados que desejam empreender para não ter chefe. Ops...
Perigo à vista!
Se existe algo que um empreender tem é chefe. Ao assumir um negócio, automaticamente está contido no projeto, a necessidade de prestar conta a centenas, muitas vezes milhares de “chefes” representados por clientes, parceiros, investidores etc.
Me parece claro que a resposta vem de encontro a percepção geral de mediocridade que assola o meio corporativo representada, muitas vezes, por “chefes” igualmente medíocres.
Por outro lado, é necessário colocar os "pingos nos is" e ter claro que a responsabilidade em empreender demanda atender e se submeter a um universo muito representativo de atores (e, sem querer iludir ninguém, muitas vezes é necessário engolir sapos, respirar fundo e lançar mão de toda sorte de estratégias necessárias para administrar situações delicadas com todos os perfis de pessoas).
Como todos sabem sou um ferrenho defensor da crença que o empreendedorismo tem potencial para ser uma das principais molas propulsoras do desenvolvimento da nossa sociedade (como já é, by the way).
É necessário, no entanto, fugir da “gourmetização” do tema e entender em profundidade sua dinâmica, seus riscos e oportunidades.
Empreender não pode ser encarado como uma fuga da realidade ou de responsabilidades duras que fazem parte do desenvolvimento de qualquer indivíduo.
A recompensa é muito gratificante e valiosa, porém o caminho é, e sempre será, árduo.
Como dizia aquele meu professor do mestrado: “No pain, no gain”.
Ah, não posso deixar de citar outro dado da pesquisa que vale outro post: 59% dos respondentes não quer abrir negócio próprio para não trabalhar muito. UI!!!!