Nos últimos cinco anos, o Brasil felizmente descobriu o empreendedorismo, mas o conceito ainda costuma ser ligado ao fundador de empresa, e o empreendedorismo dos funcionários segue sendo visto como um modismo. Será que é?
O primeiro pensador da gestão a estudar o fenômeno foi Gifford Pinchot III, que introduziu o conceito no livro Intrapreneurship, em 1985. Segundo ele, intraempreendedor é quem trabalha dentro de uma organização desenvolvendo inovações. Seu estudo sobre centenas de inovações corporativas nos EUA revelou que, em todos os casos bem-sucedidos, o projeto era liderado por “intraempreendedores”.
No Brasil, o primeiro a levantar o assunto foi o saudoso Eduardo Bom Angelo, ele mesmo um intraempreendedor de primeira grandeza, que, em 2003, lançou o livro Empreendedor Corporativo.
Trinta e um anos depois de Pinchot e treze depois de Bom Angelo, as empresas começam a sentir necessidade de uma cultura empreendedora ante a velocidade das mudanças tecnológicas, que desestrutura as cadeias de valor. No entanto, muitas a reduzem a uma visão apenas comportamental – colaboradores que sejam proativos na solução de problemas, não importando em que nível hierárquico estejam – e outras tantas buscam isso fora de suas fronteiras, em parcerias com startups. Resultado: um número expressivo de funcionários ávidos por empreender acaba se desligando das organizações e os talentos jovens nem entram ali.
O que aconteceria se as empresas criassem condições para que seus colaboradores propusessem novos modelos de negócio que tivessem relação com sua visão de futuro?
O fomento não poderia estar relacionado apenas com o incentivo ao comportamento, mas com estímulos à criação de novas empresas pelos funcionários, como recursos financeiros e expertise de apoio, convertendo-os em sócios. Acredito que o alinhamento do conhecimento do colaborador sobre as peculiaridades da companhia e sua ambição de ter um negócio próprio pode gerar uma dinâmica poderosa, mitigando o risco que a empresa corre ao investir em negócios com empreendedores que não têm domínio da área. E, de quebra, isso reduzirá a perda de talentos e criará a cultura inovadora tão buscada.
O futuro empreendedor, por seu turno, também sairá ganhando: diminuirá seu risco de insucesso ao contar com os recursos financeiros da empresa, com sua estrutura e com maior facilidade na conquista dos primeiros clientes – algo que costuma ser difícil para uma startup.
O intraempreendedorismo é uma oportunidade que não pode ser negligenciada por nenhuma empresa. Se contar com o apoio da alta cúpula e for monitorado como uma das prioridades da gestão, provará que não é só um modismo, mas um aliado estratégico na busca pela diferenciação e vantagem competitiva.